Thursday, February 20, 2014

Coisas de que não me quero esquecer #3

Ao longo dos últimos vinte e quatro (sim, vinte e quatro!) anos tenho trabalhado, em projetos e temas diversos, com a minha amiga G. Desde os trabalhos da faculdade, feitos a desoras no sótão dos pais dela, a sagas e diretas associativas, passando por mil e um pequenos projetos pessoais ou profissionais. Estas colaborações fazem parecer fácil uma coisa que não o é (mesmo nada) - trabalhar sem perder a amizade e ser amigo independentemente das questões de trabalho, fazendo com que estas duas dimensões se complementem e fortaleçam com o passar dos anos.

São tantas as ocasiões que já não as consigo enumerar todas. Ainda hoje recebi um mail com mais uma parceria cheia de qualidade e boa onda. Mas vou recordar aqui uma, porque é um bom retrato da loucura dos anos noventa, na era pré-internet. Foi quando, depois de uma noitada a fazer um trabalho para o mestrado, o computador de casa dela pifou. E, com uma apresentação para o dia seguinte, metemo-nos (nós e a disquete com o trabalho) no carocha vermelho e fomos acabar os quadros e gráficos madrugada fora no meu velhinho 240k (com 20mb de disco). Desenhados à mão, em wordperfect...
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Tuesday, February 18, 2014

Há dez mil anos atrás

De novo os Xutos. Desta vez para uma das melhores canções de amor que ouvi nos últimos tempos. Já sei, é como todas as músicas deles, algumas rimas parecem vir como o nome da banda, aos pontapés. Mas o ritmo e a força são incomparáveis. Dão vontade de saltar para a pista e fazer figuras tristes, como fazíamos, apaixonados, há dez mil anos atrás. Ou ainda hoje, segundo os meus filhos que acham mal os pais andarem sempre aos beijos. O A., um destes dias, dizia-me - com um ar muito crítico - que os avós já não andavam assim. Adivinhava-se-lhe uma esperança na voz de que a idade nos melhore.

Thursday, February 13, 2014

Coisas de que não me quero esquecer #2

São poucas as pessoas que me lembro de conhecer. Lembro-me de ir ver a minha irmã quando nasceu (melhor dizendo, lembro-me de estar a brincar com as manivelas da cama articulada onde a minha mãe estava deitada quando ela nasceu), mas não me lembro de conhecer praticamente mais ninguém das pessoas que me são próximas (e não, não me lembro de conhecer o meu marido, nem a maior parte dos amigos).

Há uma exceção, a minha prima P. Lembro-me como se fosse ontem do dia em que o pai dela, na cozinha da minha avó, me disse "Esta é a tua prima P.". Devíamos ter uns 6/7 anos. Decerto já tínhamos estado juntas em pequeninas, mas ela não vivia cá e esse foi, como o futuro iria ditar, um dia muito importante para mim.

Tuesday, February 11, 2014

Coisas de que não me quero esquecer #1

Inspirada no blogue de que sou fã, dou início a uma rúbrica de alguma coisas de que não me quero esquecer. E não, não falo das minhas costumadas distrações, falo de coisas mesmo fixes, como as do post anterior. Vou começar pelas mais antigas.

Aqui vai uma: nunca hei-de esquecer-me do dia em que chegámos a SMP, depois de uma viagem de várias horas (4 adultos + 2 crianças no carro, no tempo em que a autoestrada do Norte terminava em Vila Franca ou Aveiras), e o meu pai disse:

"-Ainda bem que te trouxemos, filha, se não fosses tu quem é que tinha vindo a falar desde Lisboa?"

E lembrei-me deste dia porque no Domingo passado a R. falava, falava, contava, contava e o Miguel disse que não havia dúvidas de quem ela era filha. Igual ao pai nas cores, à mãe na língua.

Thursday, February 6, 2014

E coisas fixes, não tens?

Tenho, sim senhor. Muitas. Não mudam o mundo, já se sabe, pelo menos todo de uma vez, mas deixam alguns de nós mais felizes, mais completos, até mais serenos. Aqui vão algumas:

- Este ano vou ser madrinha não de um, mas de dois afilhados de crisma. Ouvir o A., já com voz grossa, a pedir-me foi muito bom. Por muitas razões, mas em especial porque me lembro como se fosse hoje do dia em que me pediram para ser a sua madrinha. No Colombo :-), ainda dentro da barriga da mãe (que também quase vi nascer). Duas conclusões: estou velha e ele fez-se um homem impecável. Quanto à P., palavras para quê? Já temos tantos laços de afinidade, que este podia ser só mais um. Mas não é, é especial. É também uma confirmação entre nós.


- A R. está tão, mas tão crescida. Ela foi sempre crescida para a idade, mas agora já podemos ver juntas filmes como A testemunha, que vimos quando ela esteve com gripe e que fez questão de rever com a avó. E eu continuo a não ter saudades de eles serem pequenos, só tenho medo de me esquecer muitas coisas das fases passadas.


- O A. progride em sagacidade de uma forma que me deixa sempre desarmada. Um dia destes, chegou à escola, pousou a mochila e disse qualquer coisa como "Deixa por aqui as pedras". A auxiliar perguntou-lhe de que estava a falar. E ele disse "Da mochila, está tão pesada que parece que tem pedras!".


E como é tarde, fico por aqui. Mas mais virá :-)

Pontapés na alma

O novo disco dos Xutos é tão bom como de costume, mas pôs-me a pensar nas letras mais do que é habitual.

Numa das músicas, o "narrador" passeia o cão numa cidade decadente, de lojas fechadas. E, para cúmulo, o cão não é dele. É do irmão. Que "emigrou para o Tibete, faz-lhe festas pela internet".

Pensei logo no A. e no seu melhor amigo, agora no Dubai, que brincam longas horas via skype aos sábados (porque ao domingo lá é dia de escola). Tenho tentado não entrar em nostalgias e fatalismos com esta história da emigração. Primeiro, porque mesmo antes da crise os mais jovens já andavam a correr mundo. Depois, porque este mudou, as viagens mudaram, os empregos mudaram. Aliás, a avaliar pelas notícias desta semana, é muito mais fácil ir ao médico a Londres do que um miúdo de Bragança arranjar um hospital a menos de 400km de casa.

E este corropio de gente a ir e vir não é exclusivo de Portugal. A facilidade com que se muda de casa, de cidade, de país, é cada vez maior e muito dificilmente as coisas voltarão ao que já foram, a globalização veio mesmo para ficar. Mas, sabendo tudo isto, não deixo de sentir um espinho na alma quando penso que uma coisa é querer ir, outra é ser obrigado a fazê-lo. E nem sempre para melhores condições.

Quando vejo o facebook de uma jovem que conheço que está neste momento a começar o seu estágio de sonho, no Japão, fico contente por o mundo ser todo dela. Mas o facto de este implicar horários de trabalho perto do desumano, deixa-me a pensar que a compensação de se estar no lugar sonhado poderá não compensar se essa for a única diferença entre estar ali ou numa fábrica a fazer chouriços a metro.

Não tem conclusão, este post... as verdadeiras boas e más consequências ainda estão para se ver e saber.