Saturday, December 29, 2007

Ora aí está uma boa ideia

Vi ontem uma notícia que falava de uma campanha publicitária que está a ser feita na Galiza - sobretudo por rádio - a promover a época de saldos em Portugal. A ideia é aproveitar o facto de os espanhóis oferecerem prendas no dia de Reis e não no dia de Natal. Consta que Baltasar e Belchior estavam ontem no Norte Shopping e Gaspar foi visto a comprar lençóis e atoalhados em Valença.

Friday, December 28, 2007

O assassinato de Benazir Bhuto é mais uma das muitas notícias terríveis a que nos vamos habituando neste mundo de ataques terroristas. Todos nós crescemos com os atentados da ETA e do IRA, mas agora tudo é muito mais global, e o que me faz impressão é como é fácil fazer um atentado e gerar ódios e criar ondas de violência, de dimensão internacional.

Fim de ano

2007 está mesmo, mesmo a chegar ao fim. Feito o balanço, obrigada a todos os que contribuíram para os muitos momentos felizes que vivemos cá em casa.

Wednesday, December 19, 2007

Eu quero a Música no Coração e é já!

Vi, há bocado, que o filme do dia de Natal da TVI vai ser... a Guerra dos Mundos! Não há nada que condiga melhor com o espírito natalício do que o fim do mundo e a agonia de um pai a tentar salvar a filha, pois não?

Saturday, December 8, 2007

Há que manter as opções em aberto

Os anúncios televisivos de Natal conseguem transformar o brinquedo mais enfadonho numa espécie de passaporte para a felicidade familiar. Lembro-me sempre de um brinquedo que eu e a minha irmã recebemos, que parecia giríssimo, e se revelou uma enorme chatice.
Cá em casa, farto-me de tentar explicar isto, com os argumentos que vou arranjando, e normalmente tenho algum sucesso. Mas, um destes dias, quando disse à R. que nunca lhe iria dar uma Playstation 3, o que é que ela me respondeu?
"- Quando eu for grande, compro uma Playstation 3 e é só para eu jogar com o meu namorado!"
Se juntar a isto a mania que ela tem agora de que não gosta de viver num apartamento e quer uma vivenda, parece que tenho muitos anos de tentativas de argumentação pela frente...

Wednesday, November 28, 2007

Como se fazem as previsões meteorológicas?

Este foi o melhor mail que recebi nos últimos tempos:

“Com a aproximação do Inverno, os índios foram ter com o chefe:

- Chefe, o Inverno este ano será rigoroso ou ameno?

O chefe, vivendo tempos modernos, não tinha aprendido como seus ancestrais os segredos de meteorologia. Mas claro, não podia demonstrar insegurança ou dúvida. Olhou para o céu, estendeu as mãos para sentir os ventos e em tom sereno e firme disse:
- Teremos um Inverno muito forte... é bom ir apanhar muita lenha!

Na semana seguinte, preocupado com a sua previsão, telefonou para o Serviço Nacional de Meteorologia e ouviu a resposta:
- Sim, o Inverno deste ano será muito frio!

Sentindo-se mais seguro, dirigiu-se de novo ao seu povo:
- É melhor recolhermos mais lenha... Vamos ter um Inverno rigoroso!

Dois dias depois, ligou novamente para o Serviço Meteorológico e ouviu a confirmação:
- Sim... Este ano o Inverno será rigoroso!

Voltou ao povo e disse:
- Teremos um Inverno muito rigoroso. Recolham todo e qualquer pedaço de lenha que encontrarem, teremos que aproveitar até os gravetos.

Uma semana depois, ainda não satisfeito, ligou para o Serviço Meteorológico outra vez:
- Vocês têm certeza de que teremos um Inverno tão rigoroso assim?
- Sim, responde o meteorologista de plantão. Este ano teremos um frio muito intenso.
- Como têm vocês assim tanta certeza?
- É que este ano os índios estão a apanhar muita lenha!...”

Tuesday, November 27, 2007

Como se desilude uma avó de uma penada

A minha mãe viu umas máscaras de princesa Disney que achou lindas para oferecer uma à R. pelo Natal. Para a sondar, perguntou-lhe se ela gostaria de ter uma máscara de princesa, ao que ela respondeu:
"- O que eu quero é uma máscara de toupeira!"

Sunday, November 25, 2007

E não é que fiquei fã da pizza de chocolate?

A tal que levava mozzarela, chocolate e leite condensado... isto o pior é mesmo provar! Ainda bem que não me cheguei à de banana e canela...

Thursday, November 22, 2007

Piratas e bocas de sino

Hoje no metro, vinham duas miúdas sentadas ao pé de mim e uma delas contava à outra que tinha de fazer um trabalho sobre um objecto que tivesse sido moda nos anos 80. A outra, não estava a ver...

"- Então, é como as pastilhas Pirata. Hoje já ninguém compra pastilhas Pirata."
"- Ah, como as calças à boca de sino?"
"- Pois, pois. Agora um objecto, não estou a ver. Música, é fácil, mas um objecto... vou perguntar ao meu tio, ele deve saber..."

Eu vacilava entre o escandalizada e o divertida. Primeiro, porque tinha acabado de ver uma aluna da faculdade a comprar pastilhas Pirata. Depois, porque claro que não esperava que elas conhecessem os objectos em primeira mão mas, com tanta moda retro que há para aí, tanto blogue e site saudosista dos 80's, achava que havia meia-dúzia de ícones inter-geracionais. Pelos vistos, não.

Então, acometida de um impulso, fiz uma lista e, quando chegou a minha paragem, entreguei-lha e saí porta fora - dizendo "Toma, coisas da moda nos oitentas" - ainda a tempo de ouvir um "obrigada", entre o espantado e o constrangido.

E o que é que estava no lista? À cabeça, o cubo de Rubik, pois claro. E, entre outros, bombokas, bota botilde, limão twist, cassetes beta, zx spectrum, pacman... tudo escrito em maiúsculas, para dar para fazer pesquisas na net.

Tuesday, November 20, 2007

Que mais irão eles inventar? Não me digam que ainda há-de ir um homem à lua?

Depois de alguns meses, terminou o curso de e-learning para formadores que tenho andado a fazer. Domingo, temos o almoço de fim de curso, onde vou finalmente encontrar os formadores e os colegas cara a cara. O almoço é no Pizza na Braza do Jardim Zoológico. Até aqui, nada de estranho. Agora, vejam o que eles têm no menu: pizzas doces!

E eu que pensava que, depois da pizza de coelho e de caracol, já não havia mais nada para inventar...

Sunday, November 18, 2007

Problemas emissor / receptor

Um deste dias, vinha eu da escola com a R. e disse-lhe com grande entusiasmo:
- Então vocês têm lá na sala uma nova estagiária?
- Não! - respondeu ela prontamente.

Depois, seguiu-se uma pausa e disse:

- Eu não sei o que é uma estagiária...

Monday, November 12, 2007

Ai k nojo!

Sabiam que produzimos, por dia, cerca de um litro de ranho? Foi uma das coisas que aprendemos ontem, na exposição do Pavilhão do Conhecimento "K Nojo". Bem gira, a exposição, não só para os pequenos, mas também para os mais crescidos.

Wednesday, November 7, 2007

Dúvidas de fundo 2

Parece que os alegados terrorristas presos no Porto tinham, nos seus pertences material suspeito, como por exemplo manuais da Al-Qaeda. E fica a dúvida, o que dirá um manual destes? Como ser terrorista em dez lições?...

Sunday, November 4, 2007

Dúvidas de fundo

Porque é que as braceletes dos relógios nunca têm um furo que seja exactamente a medida do nosso braço?

Wednesday, October 24, 2007

Como é que se diz fidelizar o cliente em chinês?

Hoje saí à rua com o A. para tomar café. Vai daí, pôs-se uma daquelas chuvas miudinhas que não me deixava voltar para casa. Depois de muito esperar, entrei na loja chinesa mais próxima e comprei um guarda-chuva. E não é que recebi um cartão, para acumular compras que, ao fim de 100€ de despesa, me dá 5€ de compras? Mais uma vez, as lojas chinesas estão em cima do acontecimento, é o que é. Nas outras lojas, é preciso cem mil pontos para ter 5% de desconto... claro que eles podem fazê-lo porque não pagam IVA, IRC, etc. Mas, ainda assim, não há como ter iniciativa, não é?

Monday, October 22, 2007

Simpsonize me


Neste site podemos fazer a nossa própria figura, na versão Simpson.


Eu fiquei assim...

Wednesday, October 17, 2007

O que vale é que esta malta ainda não tem idade para ter carta

Pois é, um dia destes resolvi preencher a minha página do Hi5; depois de ter visto uma que uns alunos fizeram a gozar com um dos professores, resolvi que era melhor ter a minha, antes que alguém se lembrasse de o fazer por mim...

Perdi então um bocadinho a navegar entre amigos e amigos de amigos. E, às tantas, descobri um teenager, que, no seu perfil, preencheu assim a linha "Livro favorito":

"tabletes da estrada"

Palavras para quê?

Tuesday, October 16, 2007

E o futuro aqui tão perto

Hoje estive na conferência "e-learning Lisboa". O ambiente era tão engraçado, só se viam portáteis em todos os colos (e depois vêm-me dizer que não se deve andar com eles de um lado para o outro...), pessoal on-line em cada canto, PC para consultar a net... sei que isto não é nada anormal nestes contextos, mas estavam ali muitos e-dependentes, daqueles que precisam de descompressão e anti-depressivos quando vão de férias...

Thursday, October 11, 2007

1974, grande ano aquele...

Faz hoje trinta e três anos, estava eu a fazer girar, com grande entusiasmo, as manivelas que faziam subir e descer a cabeceira e os pés da cama da maternidade onde estava a minha irmã, acabada de nascer, ao colo da minha mãe.

Foi um dos melhores dias da minha vida, o meu mundo ficou mais rico e feliz. Claro que parte dessa felicidade era a perspectiva de poder ter um beliche em casa - o que nunca se concretizou...

Mas, enfim, mesmo sem os beliches, parabéns J. (e obrigada...)!

Monday, October 8, 2007

É tal e qual como certas secas que nos pregam...

A R., hoje ao jantar apanhou um bocado de carne de borrego com nervo. Às tantas, disse "Vou deitar este fora. É que nunca mais acabo de mastigar"...

Wednesday, October 3, 2007

E agora, um toque de gastronomia regional

A minha amiga B. passa a vida a fazer-me inveja (já para não falar de água na boca) com a iguarias de gastronomia sul-americana que lhe passam pelas papilas gustativas, como se vê aqui.

Eu, para não ficar atrás, faço já aqui um post sobre as Xerovias, aquela fantástica iguaria regional que se pode provar na zona do Fundão, ou em casa da S., quando a mãe dela as faz (e que boas que são).

Para quando xerovias à venda na mercearia aqui do bairro? E será que eu as reconhecia se as visse? Essa é a grande questão, ah pois é.

Monday, October 1, 2007

Pronto, lá eu estou eu a falar dele também...

Este não é um blogue com pretensões a político. Também não é, como o blogue da minha amiga L., um blogue introspectivo. Eu diria que não tem pretensões nenhumas, a não ser manter-me em contacto com os amigos e a família e ir contando umas histórias.

Mas não resisto a comentar também o episódio Mourinho vs Santana Lopes. Eu sei que o Santana Lopes é um dos meus ódios de estimação, tenho para mim que foi o pior político que tivemos desde 1974 (se calhar desde 1143, mas a minha memória não vai tão longe), é incompetente, arrogante, incompetente, inconsequente, oportunista, incompetente (não sei se já tinha dito...).

Claro que é ridículo uma televisão interroper uma entrevista por causa do directo da chegada do Mourinho. Mas não é menos ridículo entrevistar o Santana Lopes sobre a crise política do PSD. Por mim, dar-lhe protagonismo é o mesmo que dar protagonismo à chegada do Mourinho. Está tudo ao mesmo nível de desinformação.

E não consigo deixar de pensar que os princípio morais de que supostamente o Santana Lopes não abdica são uma farsa e que esta não foi mais do que uma das muitas ocasiões de oportunismo em que é mestre. E, de repente, lá está ele na ribalta (e no meu blogue, chiça...). Na volta, ele até já sabia da chegada do Mourinho e do directo...

Tuesday, September 25, 2007

Ainda não parei de me rir...

...desde que falei de manhã com uma ex-colega, que me disse que o nosso local de trabalho, um monumento muito interessante, recuperado para arquivo e escritórios, é agora alugado para eventos. Então, têm de entrar no edifício rapidamente, porque lá fora estão uns indivíduos a jogar (sim, nao é engano) "paintball"! E estão a trabalhar ao computador e aparecem pessoas à janela, atiradores, a correr e a gritar... nos dias de hoje, vale tudo para fazer render os edifícios públicos...

Thursday, September 20, 2007

"Bem-vindo a casa, Jorge!"

...era o que dizia alguém no público do concerto do Jorge Palma, hoje, na estação de metro do Cais do Sodré, a que eu e a R. fomos. Eu, muito contente de a ter levado ao seu primeiro concerto, ela, a dizer que a música era gira, mas que estava muito alta. De facto, como o próprio Jorge Palma diz "o vinho não era bom, a banda não tinha tom...". Não é que eles tenham cantado mal, mas foi o concerto possível, dadas as condições. O que foi mesmo giro foi ver os fãs, grudados no lugar, em contraste com os apressados, a caminho do combóio ou do metro.

Wednesday, September 19, 2007

Sítios que nos emocionam

Hoje assisti a uma bela conferência do arquitecto Manuel Vicente. Quando o ouvi contar a emoção com que esteve sentado várias horas na mesquita de Córdova, lembrei-me de alguns momentos em que senti as cidades a entranharem-se lentamente na minha consciência e, depois, na minha maneira de as ver e amar. Lembrei-me de Veneza, com os meus pais e a J., uma tarde inteira sentados na Praça de São Marcos. Lembrei-me de Bruxelas, cidade muito feia mas com uma Grand Place maravilhosa, onde estive várias horas sozinha, simplesmente a ver. E do longo anoitecer de Nova Iorque, visto do cimo do Empire State. Só nesse momento comecei realmente a gostar da cidade e a perceber porque é que tem aquela magia tão especial. Até aí, tudo me parecia cenário de série de TV.

O Quino é que sabia

Quando falo com amigos e amigas sobre os seus horários e a ginástica que fazem todos os dias só para sair de casa, levar crianças à escola, trabalhar e fazer o caminho inverso, acho que a Mafaldinha é que tinha razão, "a vida moderna, às vezes, tem mais de moderna do que de vida".

Thursday, September 13, 2007

A dormir são sempre anjinhos

Um dos melhores momentos do meu dia é quando faço a ronda do quarto da R. e do A., quando eles estão a dormir. Comovo-me sempre com a ideia de ser mãe daqueles dois miúdos, vestidos com os seus pijama de Noddies e ursinhos, cada um com o seu cheiro, a sua respiração e a paz estampada no rosto.

Friday, September 7, 2007

Tal como toda a gente, conheço pessoas que estão a optar por sair de Portugal para procurar trabalho noutros países, sobretudo da União Europeia. Curiosamente, também conheço pessoas que optam por vir viver para Portugal, algumas vindas desses mesmos países.

A maior parte das vezes, quando falamos disso culpamos a crise, o governo, os patrões ou o sistema de não conseguirem dar-nos as condições que merecemos e de não conseguirmos viver no nosso país com a qualidade de vida mínima. Este blogue é um exemplo:
http://fartosdestesrecibosverdes.blogspot.com/

É um assunto no qual penso bastante, até porque também faço parte do clube dos recibos verdes e das incertezas permanentes. Mas, por vezes, penso que não estamos a ver o problema todo. Deixo aqui algumas das minhas dúvidas:
  • Portugal sempre foi um país de pessoas que saíam para outros países para procurar uma vida melhor. Em termos estatísticos, a emigração actual é muito reduzida, face a outras épocas do passado. O que está a mudar é o facto de aqueles que emigram serem pessoas mais qualificadas, que procuram emigrar para trabalhar naquilo que gostam.
  • Talvez devido ao tipo de emigração que tivemos, temos uma imagem muito negativa do fenómeno. Em alguns países, emigrar é uma opção tão natural como ficar no seu país.
  • O peso actual de estar fora do país é muito menor, com a Internet e as viagens facilitadas, pelo menos na Europa.
  • Se a UE é um mercado comum de pessoas e bens, se podemos ir estudar para fora, a tendência é para que a mobilidade de emprego aumente e ter um mercado maior pode ser uma vantagem.
  • Hoje somos um país que recebe imigrantes, desqualificados como nós éramos, mas também especializados.
  • Nada disto invalida que as pessoas que conheço fora se sintam sempre um bocado órfãs de pátria.
  • Para terminar, penso que, ainda que a situação económica cá melhore, provavelmente a nossa emigração, sobretudo dentro da UE, não vai diminuir.

Enfim, são reflexões...

Monday, September 3, 2007

Parabéns Vanessa Fernandes!

Um destes dias, uma prima minha estava a explicar à filha que o pai tinha sido campião nacional numa modalidade de atletismo. E vai daí, a filha pergunta-lhe:
"- Mas o avô dantes era preto?"

Saturday, July 28, 2007

Vou de férias com a M80!

Lembram-se do Oceano Pacífico, aquele mítico programa que enchia as noites da rádio com sessões contínuas dos Pink Floyd e Eric Clapton nos seus melhores dias? Pois, agora, há a 96.6, a M80, o verdadeiro Oceano Pacífico do pessoal dos "eighties" - só música dos anos 70, 80 e, vá lá, dos 90. Neste preciso momento, passa a "Nikita"! Para quê entrar no século XXI? Eu não vou ouvir mais nada nas férias, está resolvido!

Wednesday, July 18, 2007

Vê-se mesmo que ainda não havia metrosexuais no tempo dele...

A beleza masculina

"Mas não tenhas gosto em frisar com ferro o teu cabelo,
nem rapes, com a aspereza da pedra pomes, as pernas;
deixa que façam isso aqueles por quem a mãe cibeleia
é celebrada ao som de cantos ululantes.
Uma beleza desarranjada é o que fica bem aos homens.
A filha de Minos, Teseu a levou, sem ter a cabeça enfeitada com qualquer gancho;
Hipólito, Fedra perdeu-se de amores por ele, e ele não era lá muito elegante,
paixão de uma deusa foi Adónis, afeiçoado aos bosques.
É a limpeza que deve dar prazer, revele o corpo a pele tisnada no Campo de Marte;
esteja a toga apresentável e sem nódoas;
não deve usar-se calçado ressequido e não haja ferrugem nas fivelas,
nem ande o pé a nadar, desengonçado, em pele largueirona,
nem dê mau aspecto a cabelos enrijecidos um corte mal feito;
sejam cabelo e barba aparados por mão firme;
as unhas não devem dar nas vistas de compridas e devem estar limpas,
e no nariz não deve haver qualquer pelo;
não saia mau hálito de uma boca malcheirosa,
nem atinja o nariz dos outros o fedor do macho e do pai do rebanho.
Quanto ao resto, deixa-o por conta das mulheres dadas ao prazer
ou de qualquer homem que tenha o vício de possuir outro homem."

Ovídio in A arte de amar

Tuesday, July 17, 2007

Finalmente!

Até que enfim que todas as conversas começam a girar em torno dos destinos de férias. Este ano, talvez porque o Verão tarda em se apresentar ao serviço, talvez porque cada vez mais (em especial para quem tem filhos) as férias são em Agosto, nunca mais começava a anual troca de planos e destinos. Tenho andado de orelha à escuta, e eis o que descobri:
- toda a gente diz mal do Algarve, mas vai lá na mesma (quem é que queremos enganar? A água na costa Oeste é um gelo...);
- cada vez mais as pessoas têm, no máximo, 15 dias fora de casa e o resto passam em casa ou deixam para o Natal e para os feriados;
- os portugueses não passam sem praia, quase ninguém vai para outros locais;
- pelo menos até onde consegui ouvir, viagens ao estrangeiro nem vê-las;
- estamos a voltar à "casa de família" de férias - talvez por causa da crise, tem de se tirar partido do que se tem...

Friday, July 13, 2007

O "treuze" é o número da sorte

Pois é, nesta sexta-feira treze, fica a pergunta: porque é que, ultimamente, se diz "treuze", em vez de treze? É uma coisa tipo Diácono Remédios "eze, eze"?

Monday, July 9, 2007

Eh pá, assim como é que um gajo faz campanha?

Era uma vez um pobre candidato à Câmara Municipal de Lisboa a pregar, ali entre o Saldanha e o Marquês. Procurava evangelizar os cidadãos para a bondade das suas ideias. Debalde. E porquê? Porque o pobre senhor não encontrou nem um eleitor que votasse em Lisboa. Irra! Já não chega um tipo ter de competir com 12 (doze!!) concorrentes, ainda tem de pescar à unha os poucos moradores da cidade. Feitas as contas, se dividissemos os eleitores de Lisboa pelo número de candidatos, tenho a impressão que dava para cada candidato jantar em casa de todos os cidadãos que lhe cabiam em sorte durante a campanha. Assim, sempre tinha a certeza de não estar a pregar para peixes de outra freguesia...

Thursday, July 5, 2007

Verdadeira ou não, é uma reflexão interessante

"Os homens fazem o que podem, as mulheres o que os homens não podem fazer." Isabel Allende in Inês da minha alma

Tuesday, July 3, 2007

Ai Portugal, Portugal, de que é que tu estás à espera?

Saiu hoje um novo disco do Jorge Palma. Talvez por causa do tempo nublado, próprio de um mês de Outubro da era pré-aquecimento global, a cidade parecia adormecida, mole... aliás, é assim que vejo Lisboa nos últimos tempos, à espera...

Na esperança de que as eleições próximas agitem as águas e de que nós próprios tomemos o nosso papel de cidadãos nas mãos, cito aqui o dito Jorge Palma, numa canção com uns anos, mas ainda tristemente actual:

"Ai Portugal, Portugal
de que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
e outro no fundo do mar.
Ai Portugal, Portugal
enquanto ficares à espera
ninguém te pode ajudar."

Estamos à espera de quê, afinal?

Policiadeira...

é o que a R. chamava um dia destes a uma esquadra. Até que não está mal visto, não senhor...

Sunday, July 1, 2007

Para o Pedro

O Pedro é um grande amigo, um dos meus amigos mais antigos. A ele devo muitos momentos bons da minha vida e partilhamos algumas memórias, muitas delas muito divertidas. Foi ele que me apresentou ao J. e que me "empurrou" para o associativismo. Com o passar dos anos, e com as centenas de quilómetros que nos separam fisicamente, temo-nos visto menos vezes, mas sempre que nos reencontramos é como se nos tivessemos visto na véspera: mantemos as mesmas conversas longas e animadas sobre tudo e sobre nada, sobre o estado bom e (sobretudo) mau do país, mantemos os mesmos interesses pela vida ao ar livre e pela descoberta de sítios maravilhosos para estar.

Por isso, quando ele hoje me ligou, pensei que estava perto, que tinha chegado finalmente o dia de conhecer a minha casa e o A. Por isso, quando me disse "É para te dizer que a minha mãe morreu hoje, no Salgado, apanhada pelo mar" nem queria acreditar. Ainda agora não acredito. Ainda agora não tenho palavras para ti. Tudo o que se pode dizer são lugares comuns e é certo que não tos direi amanhã, quando te vir. Tenho a minha amizade para te dar e ambos sabemos que é isso que interessa - e vamos continuar a falar dos problemas de ordenamento e de sítios bons para acampar.

Tuesday, June 26, 2007

Pronto, a metro é que somos bons!

Ontem subi o Elevador da Bica, uma experiência sempre emocionte. Iam dois casais de turistas espanhóis que trocavam experiências e itinerários lisboetas. Estavam, ao que parece, contentes com Lisboa, mas gabavam sobretudo o Metro e a sua rapidez, eficácia e frequência. E eu pensei: pois é, às vezes até nos esquecemos que há coisas que funcionam realmente bem acima dos padrões de muitas cidades do mundo...

Primeira frase da página 161 do livro que se está a ler

Este foi um desafio lançado pela BB, a que, com todo o gosto, respondo. Então a primeira frase completa é:
"De Morgan levantou os braços - Lavo as minhas mãos desse caso! Já perdi meio dia. Façam como quiserem."

Hmmm, acho que com esta não vamos a lado nenhum...

Thursday, June 14, 2007

Afinal, para ambos abrimos a boca...

Ontem trouxe suspiros, uma das coisas que, estranhamente, a minha virose me deixa comer. Hoje, dei um a provar à R., que adorou. Daí a bocado, entrou na cozinha e disse-me: "Posso comer um bocejo?"...

Começar o dia pelo nariz

Uma das coisas de que mais gosto (ou, se calhar, a única) quando tenho de sair de casa cedinho é do primeiro impacto odorífero quando saio a porta do prédio. Em especial se uso a porta das traseiras, onde há mais terra e menos alcatrão. Qualquer cheiro me relembra dias diversos de anos mais ou menos distantes, memórias dos tempos em que andava por aqui na escola, ou na universidade, de quando trabalhava aqui ou ali. E assim entretenho os meus movimentos de viagem pedestre até ao Metro. Cá para mim, é uma boa maneira de começar o dia.

Wednesday, June 6, 2007

Pureza no século XXI

Hoje, no bar da faculdade, estava a ouvir um grupo de raparigas (aí com 22 anos) a falar de vestidos de cerimónia. Percebi que uma delas ía casar e estava a descrever o vestido. Pela descrição, parecia bem piroso, mas isto de vestidos de noiva tem muito que se lhe diga, por isso provavelmente vai ficar-lhe maravilhosamente. Eu não estava a ouvir a conversa toda, apenas uns bocados, porque falavam muito alto. De repente, salta uma das participantes, em grande exaltação: "Eu acho isso uma hipocrisia". Eu, ingénua, pensava que ela ia falar do casamento em si, sei lá, de casar pela igreja quando não se é católico, ou de casar de todo. Mas eis que ela continua: "Isso de casar com véu e grinalda, de branco, como se fosses muito pura!". Pronto, e aqui caiu-me o queixo. Bem sei que as gerações mais novas que por aí andam transbordam conservadorismo, mas destas já não ouço nem aos nonagenários da minha família. E lembro-me sempre de uma cena do filme Flores de Aço, em que uma das personagens pergunta à outra "Achas que mereço casar de branco?" E a amiga responde-lhe: "Querida, todas nós merecemos casar de branco." E mainada!

Bem visto...

Estava a dar banho à R. num daqueles dias em que precisava mesmo de me despachar, a dizer-lhe que era só um duche, que tínhamos de ser rápidas e que não ia lavar o cabelo.
"- Então e a cabeça?" - perguntou ela...

Thursday, May 31, 2007

Ó professora, mas por causa de um azar fico prejudicado

Dizia-me hoje um aluno. Eu ainda lhe dei o benefício da dúvida e fui à carderneta confirmar qual tinha sido o azar dele. Pois é, tinha copiado o trabalho de outro, tinha tido zero nessa avaliação e agora, somando as avaliações feitas, não tem dez, apenas nota para ir a exame. Realmente, há cada azar nesta vida...

Tuesday, May 29, 2007

O pássaro da alma

A São, que é uma educadora maravilhosa, ensinou à R. e aos meninos da infantil o que é o pássaro da alma - é ele que abre e fecha as gavetas que temos em nós: a gaveta da raiva, do feliz, do triste, do chorar. Claro que já acrescentámos uma gaveta que só se abre em casa, que é a do disparate...

Tuesday, May 22, 2007

Sete anos de pastor Jacob servia, já dizia o Camões

O sete é um número místico, em várias religiões e culturas. Temos os sete anões, as sete maravilhas do mundo, as sete trombetas do Apocalipse, os sete dias da semana... enfim, todo um conjunto de referências mais ou menos profundas e espirituais.

Temos também a famosa crise dos sete anos, que parece que afecta matrimónios, amizades e, segundo descobri esta semana, electrodomésticos. Pois, é verdade, faço este ano sete anos de casada e, por consequência, sete anos que viemos para aqui morar, fizemos obras e comprámos os tarecos. E, se o casamento está fresco e se recomenda, o mesmo não posso dizer dos electrodomésticos. Numa semana, a televisão e o ferro de engomar pereceram e o micro-ondas, a máquina da roupa e a da louça estão bastante engripados.

Ninguém me tira da ideia que deve haver uma forte relação entre as crises dos sete anos dos electrodomésticos e as matrimoniais. O pessoal anda feiote, com a roupa enrodilhada (e lavada à mão...), nervoso de tomar banho de água fria, porque o esquentador pifou... e, sem televisão, começa a ter de se conversar sobre alguma coisa. Daqui à discussão permanente deve ser um passo pequeno...

Enfim, o que me vale é a televisão com vinte anos dos meus avós que estava no sótão. Mas não tem comando e só apanha os canais que lhe apetece!

Tuesday, May 15, 2007

Verão (que) é mesmo assim

Estamos todos a suspirar pelo Verão, pelas férias (a silly season, como lhe chamam agora, que podemos traduzir por "estação pateta"...), pelo solinho da praia, enfim, por todas aqueles momentos sem horários nem chefes, que sabem a gelado e a estar com a família. Claro que a nossa memória apaga, convenientemente, os dias de quarenta graus, em que só se pode sair com os miúdos depois das seis da tarde, as praias mais ou menos superlotadas, as constipações de Verão...

Para aqueles que partilham connosco as idas a São Martinho, esquecemos também as hipóteses de, pelo menos, um mês de nevoeiro, a Rua dos Cafés com gente a mais, os preços que sobem na Praça e, em geral, a invasão anual de banhistas.

Pois é, embora já não seja bem como era dantes, ainda temos bem presente a distinção (que cheguei a ver escrita num cartaz de Verão) entre locais, banhistas e turistas. Os últimos são meia dúzia de estrangeiros que por lá vão aparecendo, sobretudo em Maio e Junho. Os locais somos nós, pois então! O pessoal da terra, ou com raízes fortes nela. Os banhistas... como definir um banhista? Tem de ter vários apelidos, de preferência sonantes, tem de ter pelo menos três filhos, chamar à praia Salgados (em vez de Salgado) vir (preferencialmente) de Santarém, ir ao baile da chita, usar mocassins (ou sabrinas) e ter um médico na família. Se não tiver uma (ou todas...) as condições, tem - pelo menos durante o mês de Agosto - de agir como se as tivesse.

Tempos houve em que os banhistas me irritavam profundamente. Nem punha os pés no lado da baía por onde eles andam e todos aqueles tios e sobrinhos me buliam com os nervos. Hoje, já convivo com eles com mais naturalidade, mas há uma coisa que continua a revoltar-me: a forma como todas aquelas pessoas chama sua à minha terra durante umas semanas, mas são incapazes de fazer alguma coisa por ela - mesmo quando a sua instrução ou posição política o permitiriam.

Há excepções, é certo, mas, para a maioria, São Martinho não passa de um cenário para a sua "estação pateta". E a patetice, às vezes, não tem limites. Reproduzo aqui um diálogo que ouvi uma vez. Chegou à janela uma mãe, a falar para dois miúdos que andavam de bicicleta:

- Zé Maria, o seu pai não é médico?
- É.
- É que queria falar com ele para ver o pé da Marianinha, que está inchadíssimo...
Diz o outro miúdo:
- O pai dele é médico, mas é dentista!

Friday, May 11, 2007

Eu que me comovo por tudo e por nada*

Os dias mais felizes da minha vida, foram (sem ordem especial) o do meu casamento, aqueles em que dei à luz a R. e o A. e o do nascimento da J. Tenho a imensa sorte de ter tido sempre uma vida muito feliz, rodeada de muitas pessoas maravilhosas, que me acarinham e me incentivam. Esses dias foram momentos de mudança de algo que já era bom para algo ainda melhor.

Mas hoje, porque sim, porque temos uma sintonia própria e indestrutível que nos une, dedico este post à J. Quando ela nasceu, ficou tudo como estava, mas houve uma nova ternura...


Quando eu nasci - Sebastião da Gama

Quando eu nasci,
Ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
Nem o Sol escureceu,
Nem houve Estrelas a mais...
Somente,
Esquecida das dores,
A minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,

Não houve nada de novo
Senão eu.
As nuvens não se espantaram,
Não enlouqueceu ninguém...
P'ra que o dia fosse enorme,

Bastava
Toda a ternura que olhava
Nos olhos de minha Mãe...


*titulo de uma música do Vitorino, da autoria de António Lobo Antunes

Nem o chapéu, nem a bóina...

Grande concerto, o do Vitorino a que assisti hoje. O prazer foi redobrado, porque não tinha pensado ir e foi decidido à última hora. Entre as maravilhosas músicas com letra do Lobo Antunes, as mais tradicionais, a Leitaria Garret e as músicas do Zeca, não sei qual foi a melhor. O "Menina estás à janela" foi o mais bonito que ouvi até hoje. E o ambiente foi familiar, com o Vitorino a conversar muito connosco, o que não é costume. Soube mesmo bem!

Thursday, May 10, 2007

Um alentejano não tira o chapéu a qualquer um

Lembro-me muitas vezes desta frase, que me disseram há tempos, quando me deparo com aquelas situações do "Quem é quem?", em que parece que o nome de família é mais importante do que as próprias pessoas. Para mim, isto é uma herança da nossa ruralidade, do facto de vivermos num país pequeno, que só agora começa a ser mais diverso e multi-étnico, onde o indivíduo ainda não vale só por si, tem também um pedigree que o promove ou despromove.

Estes momentos trazem-me sempre à memória (e à saudade) o meu avô. Se havia palavra que o podia descrever era, sem dúvida, "dignidade". Para ele, cada um valia pela sua moral e pela sua conduta e não pelo nome ou fama que carregava. E essa foi uma lição que nos ensinou a todos. E, mesmo a propósito, aqui fica uma história que costumava contar:

"Uma vez, no Alentejo, estava um homem sentado. Chegou outro homem, muito senhor, que lhe perguntou:
-Como é que você se chama?
-Zé Manel. E V. Exa.?
-José Maria Bernardes de Vasconcelos Souto da Cunha Gonçalves.
E o homem respondeu-lhe:
-V. Exa. desculpe, mas V. Exa. tem cá um filho da p*** dum nome!"

Thursday, May 3, 2007

Tradição é ou não o que era?

Hoje, no metro, assisti a uma conversa entre duas senhoras. Veio depois uma terceira, que as interpelou. E sobre quê? Sobre ter ou não ter um cordão de ouro. Já há muito tempo que não ouvia uma conversa destas e o que me surpreendeu foi o facto de as senhoras serem relativamente novas. Fiquei a saber que uma delas tinha um cordão de três voltas (suponho que devem ser os melhores), herdado da bisavó, mas que "Não se pode usar hoje em dia", por isso o levou para a Terra. Também parece que é hábito quem herda cordões mandar parti-los e dividir pelos filhos, fazendo fios para cada um deles. Mas o argumento mais importante era que, mesmo nunca usando um cordão de ouro, era bom e importante tê-lo.

Eu fiquei a pensar nestes vestígios da sociedade rural tradicional com os quais ainda vivemos e como, para muitas pessoas, estas são ainda coisas importantes (mesmo que o ouro já não seja algo que se pode vender com lucro, quando se precisa de dinheiro). E no peso que a tradição e as heranças familiares ainda têm entre nós. É engraçado como, em algumas coisas, ainda conta mais (para o bem e para o mal) o que a família nos lega do que aquilo que conseguimos por nós próprios. Isto está a mudar, é certo. Mas um cordão de ouro, será sempre um cordão de ouro. De três voltas, de preferência.

Mães e madrastas

Já sabemos que educar os próprios filhos é muito mais complicado do que pensávamos quando só víamos os dos outros. Há que ter muita, muita paciência, em especial naqueles dias em que eles parecem ter como objectivo principal testá-la... Ontem foi um desses dias: a R., durante o banho, esticou a corda até mais não poder. Molhou-me, molhou o chão, disparatou, em suma. Eu decidi que não ia ralhar nem levantar a voz. Deixei-a fazer todos os disparates até ao fim, vesti-a e depois dei-lhe uma toalha e mandei-a limpar o chão da casa de banho.

A surpresa foi total, mas lá foi ela (e até com muito jeito, diga-se). Mas, claro, não tardou a argumentação: "- Mas eu não gosto disto... isto é coisa de grandes. Parece a Gata Borralheira!" Claro que, nesta altura, já eu ria às escondidas cá fora. Acabou a limpeza, mas ainda a dizer: "- É como a Gata Borralheira, mas ao contrário. Lá, foi a madrasta que entornou o balde da água para ela limpar!"

Tuesday, May 1, 2007

Onde o tempo chega para tudo

A serra e a carqueja (Fraguinha, 2007)
Já a vista me fraqueja - Sérgio Godinho

"Já a vista me fraqueja
Quem lá vem, que não o veja
não faz mal, que já vi tanto
que a morte me não espanto
que me venha visitar
já a flor se faz carqueja,
já o caixão se faz ao mar

Já a vista me fraqueja
É ainda rubra a cereja
são ainda côr do passado
meus cabelos desbotados
é ainda negro o penar?
Já a flor se faz carqueja
já o caixão se faz ao mar

Já a vista me fraqueja
Seja o amor cego ou não seja
tive muitos vida fora
sei que já não tenho agora
senão amores de contar
já a flor se faz carqueja,
já o caixão se faz ao mar

Já a vista me fraqueja
Ver a morte não me aleija
o que aleija é ver a vida
dum irmão andar metida
num viver sem avançar
Já a flor se faz carqueja
já o caixão se faz ao mar"

(dedicado, sem nostalgias, à família B.)

Tuesday, April 24, 2007

25 de Abril sempre!

Do livro A liberdade, o que é?, de José Jorge Letria, oferecido à R. (obrigada F. e S.)

"A Liberdade
é um circo que torna livres
todos os bichos."

"A Liberdade
é um pequeno gesto
onde cabe tudo o resto."

"A Liberdade
é um ponto final
em tudo o que nos faz mal."

"A Liberdade
é um capitão a beijar
a alegria de um cravo."

"A Liberdade
é ter tempo para dar
mais tempo aos outros."

"A Liberdade
é um menino
de todas as cores."

"A Liberdade
é um país sem medo
a tentar ser feliz."

Friday, April 20, 2007

Mas isto não tem solução?

Como gosto de futebol, custa-me muito que parte da claque no meu clube seja constituída por energúmenos, que aproveitam as emoções fortes que este desporto provoca para dar largas às suas personalidades doentes. Não há espectáculo mais triste do que ver chegar as claques aos estádios, rodeadas de polícia de intervenção por todos os lados, insultando tudo e todos aos gritos. Infelizmente, parecem o que são: criminosos a ser transportados de jaula em jaula. E é lamentável que os clubes os apoiem e achem que precisam deles para alguma coisa.

Que esta gente tenha protagonismo no mundo corrupto do futebol já é absurdo, mas que passem para a prática partidária democrática é mesmo ridículo. Como é possível que seja permitido ter um partido político cujos militantes gritam, à porta da PJ, "Viva o Hitler, seus filhos da p***"? Que sentido faz isto?

E como parece que toda a gente acha isto normal, acho que a única solução é haver mais jogos de futebol. Pelo menos, assim, sabemos onde é que eles andam e a polícia está de olho neles...

Wednesday, April 18, 2007

Tell me, why? I don't like Mondays!

Um massacre numa universidade americana, resultou em mais de trinta mortos. Mais um, diz-se, porque já vamos ficando indiferentes. Ouvi mesmo um comentador dizer que aquela era uma escola com um plano anti-terrorismo, que se não conseguiu evitar um ataque isolado não teria resistido a um ataque terrorista, que as pessoas têm tendência a ir esquecendo as coisas (como o 11 de Setembro) e não a tirar lições delas, blá, blá, blá...

Eu fico sempre a pensar o que é que teria passado pela cabeça daquelas pessoas que acordam um dia e massacram dezenas de pessoas. E nos pais delas, que, aposto, quando elas nasceram não pensavam que esse era o seu destino. E lembro-me sempre da música dos Boomtown Rats, a banda de Bob Geldof, que é sobre uma rapariga de dezasseis anos que, numa segunda-feira, alvejou os alunos de uma escola primária. Quando lhe perguntaram porquê, respondeu "I don't like Mondays".

I don't like Mondays - Boomtown Rats

"The silicon chip inside her head
Gets switched to overload.
And nobody's gonna go to school today,
She's going to make them stay at home.
And daddy doesn't understand it,
He always said she was as good as gold.
And he can see no reason
'Cause there are no reasons
What reason do you need to be shown?

Tell me why?
I don't like Mondays.
Tell me why?
I don't like Mondays.
Tell me why?
I don't like Mondays.
I want to shoot
The whole day down.

The telex machine is kept so clean
As it types to a waiting world.
And mother feels so shocked,
Father's world is rocked,
And their thoughts turn to
Their own little girl.
Sweet 16 ain't so peachy keen,
No, it ain't so neat to admit defeat.
They can see no reasons
'Cause there are no reasons
What reason do you need to be shown?

Tell me why?
I don't like Mondays.
Tell me why?
I don't like Mondays.
Tell me why?
I don't like Mondays.
I want to shoot
The whole day down.

All the playing's stopped in the playground now
She wants to play with her toys a while.
And school's out early and soon we'll be learning
And the lesson today is how to die.
And then the bullhorn crackles,
And the captain crackles,
With the problems and the how's and why's.
And he can see no reasons
'Cause there are no reasons
What reason do you need to die?

Tell me why?
I don't like Mondays.
Tell me why?
I don't like Mondays.
Tell me why?
I don't like Mondays.
I want to shoot
The whole day down."

Friday, April 13, 2007

Sexta-feira 13, bora esconjurar bruxas e beber uma queimada virtual?

Conjuro galego da queimada

(...)
E cando este brebaxe
baixe polas nosas gorxas,
quedaremos libres dos males
da nosa alma e de todo embruxamento.

Forzas do ar, terra, mar e lume,
a vós fago esta chamada:
si é verdade que tendes máis poder que a humana xente,
eiquí e agora, facede cós espritos
dos amigos que estan fóra, participen con nós desta Queimada.

Thursday, April 12, 2007

Ó senhor bacharel de civil assine lá este projecto!

Como não podia deixar de ser, aqui também tem de haver um post sobre a polémica do diploma, da licenciatura, das cadeiras, das mesas e das mesinhas de cabeceira do Primeiro Ministro.

Como qualquer português curioso da vida alheia, lá estive a ver a entrevista, para ver se o senhor se justificava, nos convencia ou não, se espalhava ao comprido, etc. E como, de repente, toda a gente percebe imenso de cadeiras, equivalências, burocracias universitárias e afins, suponho que foi uma entrevista que o país seguiu com atenção.

Nem acho que valha a pena discutir o cerne da questão, que me parece arrumado há que tempos. Agora, pareceu-me que o comportamento dos jornalistas foi agressivo e irritante, chegando a fingir-se ingénuos para fazer perguntas que chegavam a ser insultuosas.

A minha preferida foi aquela de os bacharéis de engenharia civil serem ou não engenheiros. Um comentador a seguir à entrevista, até já falava do "uso social do título de engenheiro"... isto é só um exemplo, mas há muitos anos que em Portugal se chamam a estas pessoas engenheiros técnicos (até já vi coisas assinadas com "Engenheiro Civil, bacharel").

Enfim, haja paciência...

Wednesday, April 11, 2007

Afinal, quem é que é Independente?

Todo este folhetim do fecho / não fecho da Independente me deixa dividida. Por um lado, penso "bem feita", estes gajos pensam que podem fazer tudo e ficar impunes. Por outro, tenho realmente pena dos alunos e dos professores que, na sua boa fé, perdem o investimento de anos e os empregos, ficando todos em situações precárias e de insegurança face ao futuro. Claro que há para aí universidades que receberão os alunos de braços abertos, mas dificilmente ficarão com equivalências totais e vão de certeza ter de fazer mais cadeiras.

E o pior é que nunca temos a certeza de a justiça ir realmente funcionar e de, no fim, ser punido quem deve. Eu não sou daqueles pessimistas que não gostam de Portugal e que estão sempre a dizer mal de tudo, mas, de facto, no que toca ao sistema judicial (ao contrário de outras áreas) temos vindo a marcar passo, para não dizer que andamos para trás. E estou cansada desta realidade em que quem se lixa é sempre o mexilhão. Portanto, porque sou optimista, espero que os senhores vão para a cadeia e paguem as dívidas que constraíram. E que o Pinto da Costa e o Valentim Loureiro lhes façam companhia, já agora...

Tuesday, April 10, 2007

A cidade e as serras

Muitas vezes tenho pensado que viver em Lisboa tem muito pouco de urbano. Pelo menos aqui para as minhas bandas, enquanto os vizinhos reformados forem os principais actores do nosso cenário. Todos os dias assisto a pequenas cenas da vida de aldeia, ao melhor estilo de Júlio Dinis. Mal acontece qualquer coisa, aparece o Sr. António, sempre com o seu boné americano, a indagar, a oferecer ajuda, a dar dois dedos de conversa. Nada passa despercebido. Se já lá vão os tempos dos coelhos e galinhas nas capoeiras, continuamos a ter vizinhas de chinelas e avental a passear os cães (e gatos!), a conviver harmoniosamente com os novos residentes, com os seus horários impossíveis e as suas vivências "modernas". Se calhar, isto é que é viver num meio urbano...

Monday, April 9, 2007

As alegrias da Páscoa infantil!

O coelho Alberto disse ao neto
que é perigoso andar a passear
pois lá na selva há crocodilos
e os coelhinhos dão um bom jantar

Mas o coelhinho não deu ouvidos
e para a selva foi passear
veio de lá um crocodilo
abre a boca e....

passo a passo o crocodilo avança...

Ai que susto, ai que susto
que apanhei no coração
a cabeça está tão quente
ai que dor que aflição!

Monday, April 2, 2007

Abril de sim, Abril de Não Manuel Alegre

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.

Tuesday, March 27, 2007

Os bois pelos nomes

Disse-me a R.: "Sabes como é que se chama a minha ginástica lá na escola? Educação Física!"

A propósito de "Portugal um retrato social"

Lembro-me sempre de uma história que a minha avó conta, de uma mulher que ela conheceu, quando era miúda, em Seia. Tinha muitos filhos, estavam todos sentados no chão na cozinha, e a minha avó perguntou-lhe:
"- O que é que você vai fazer para o almoço?"
" - Arroz."
" - Arroz com quê?"
" - Arroz com quê?! Com nada!"

Pois é, mas parece que, afinal, antigamente é que era bom...

Não se deve ouvir a conversa alheia...

Desde que as aulas começaram, tenho almoçado num restaurante pequeno, com comida portuguesa, que fica lá perto. Um dos fregueses habituais é um senhor que eu conhecia de vista, já há alguns anos, cego, que costuma pedir no Metro do Rossio. Esta semana, estava a almoçar sozinha, e fui ouvindo a sua historia, que ele contava a outro cliente da casa.

Fiquei, assim, a saber que ele recebe uma pensão do Estado, de 287€. Paga, depois, 250€ pelo quarto onde vive. Segundo as suas palavras, fica com 37€ para comer por mês. O restante, suponho, consegue pedindo no Metro. Ora, estava ele a contar que tinha sido contactado por uma senhora da Segurança Social, para passar a ir a uma instituição qualquer almoçar e jantar todos os dias. Ele perguntou se podia continuar a pedir, ao que ela respondeu que não. Sendo assim, não aceitou, porque "perdia a sua liberdade". "Prefiro passar fome", concluiu.

E eu fiquei sem saber o que pensar. Devemos ficar contentes por a Segurança Social querer tomar assim conta das pessoas? Mas porque é que não lhe arranjam antes um emprego? Ou será que pedir no Metro já é um emprego? Agora, parece-me bem triste que se tenha de escolher entre passar fome e ser livre, ainda que essa liberdade dependa da caridade alheia. Devo dizer, contudo, que o dito senhor não é uma criatura miserável nem amargurada, e falava da situação como qualquer pesssoa fala das suas angústias em relação ao emprego.

Serviço público como deve ser

Tomei hoje a minha meia de leite matinal num café onde havia um telefone público daqueles azuis. E não é que por cima estava uma folha com todos os números de telefone de emergência possíveis de imaginar (desde o centro anti-venenos à assistência 24h da PT)?

Friday, March 23, 2007

Afinal, os bons são mais do que os maus

Li uma história fantástica esta semana. Uma bookcrosser portuguesa tinha enviado um livro seu para circular em empréstimo. O livro foi parar ao Brasil e nunca mais deu sinal de vida. Não é que agora, passado muitos meses, ela o recebeu em casa, porque um brasileiro encontrou o livro num alfarrabista, leu no seu interior a etiqueta BC, viu que era de uma colecção particular, comprou-o e foi à procura da dona para o devolver?

Fez-me lembrar aquela vez em que o pai da P. estava em casa a receber vários telefonemas de um senhor que estava fora do país e queria contactar a família, para dizer que tinha chegado bem, e não conseguia, porque havia uma confusão de linhas telefónicas e a chamada ia sempre parar àquele número. Acabaram por combinar que o pai da P. ficava com o número e contactava directamente a família o senhor. Curiosamente, anos mais tarde, viemos a descobrir que o tal senhor era o futuro cunhado da P...

Enfim, a vida está cheia de coincidências e de pequenas generosidades.

Monday, March 19, 2007

Boas notícias!

Alterei os settings do blogue e todos vocês podem agora fazer comentários sem estarem registados. Apareçam!

Livres para amar

"O que é ser livre?" perguntou-me hoje a R. "Meu Deus", pensei. Como é que eu explico a uma miúda de quatro anos o conceito de liberdade? Lá puxei da imaginação e fui dizendo que a liberdade é coisa mais importante do mundo, que é podermos fazer o que quisermos, desde que não façamos mal a ninguém e respeitemos os outros.

"- Eu não faço mal a niguém. E os maus?"
"- Os maus fazem coisas más com a liberdade, por isso prendemo-los, para lhes tirar o bem mais precioso. Sabias que temos muita sorte, porque há países onde não há liberdade? Não podemos falar nem gostar de quem queremos."

" - Olha, eu gosto muito de ti, por isso vou dar-te um abraço muito apertado!"

Juro que comecei a conversa um bocado a falar mais para mim, para ver se conseguia explicar-lhe, do que para ela. E acabei com um dos melhores momentos da minha vida...

Sunday, March 18, 2007

Viva a Avó Teresa e a coragem com que entrou nos noventa anos!

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão Ferreira

Wednesday, March 14, 2007

Linha do Oeste

A viagem de comboio de ida e volta a Guimarães foi feita num ambiente tão calmo e civilizado que quase me convenci de que estamos num daqueles países em que viajar de comboio para trabalhar e estudar é uma actividade comum. Dei comigo a pensar numa viagem que fiz com o meu primo P., há uns vinte anos, num Domingo à noite, num comboio carregado de "magalas", onde nem sequer havia lugar para nos sentarmos. E lá fizemos três horas de pé, no corredor entre os bancos, a ouvir as histórias do "meu primeiro", do Costa, do Silva e do Tavares. Claro que, hoje, todos os militares (que já são - felizmente - apenas os voluntários) vão de carro para o quartel, desdenhando o desconto que a CP lhes oferece. E eu, na nostalgia de chegar às onze da noite a Guimarães num comboio vazio, e na lembrança da óptima juventude que tive, quase me distraía e ia tendo saudades dessas viagens...

Wednesday, March 7, 2007

Cinco décadas para isto

Assisti, hoje, com genuína emoção a alguns momentos transmitidos pela RTP, no aniversário dos seus 50 anos. Realmente o país mudou, e mudou muito, neste meio século e a RTP é o nosso auxiliar de memória, com as imagens que captou. Em alguns momentos, como se diz agora, ela própria fez história. E como cinquenta anos abrangem a maior parte da vida (ou toda) daqueles que estão vivos hoje, quando vemos imagens do Zip-zip, do Mário Viegas, do Sousa Veloso ou do Vasco Granja, vemos também uma parte de nós mesmos e revisitamos boas memórias do nosso passado. É, pois, um momento de sorriso nos lábios. Que se me acabou quando vi o Cavaco, mais a sua Maria (de mala no bracito) a fazer a visita guiada às novas instalações, depois da benção do D. José Policarpo. Não sei porquê, mas a magia foi-se.

Sunday, March 4, 2007

A lengalenga que a fungagazita trouxe da escola

Eu tenho uma amiga, a sombra,
que anda comigo e não fala.
Por mais que puxe conversa,
sempre a marota se cala.

Logo que corro para o sol
estende-se a sombra no chão.
Pisam-na todos os pés,
e senta-se nela o cão.

Thursday, March 1, 2007

AS ÁRVORES E OS LIVROS

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.
Jorge Sousa Braga, Herbário, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999

A malta era com ginja!

Mandaram-me uma imagem de um jogo de damas polaco, em que as peças eram copos de vodka, que se iam bebendo à medida que se perdiam (ou ganhavam?) peças. Ora isto é uma grande ideia para as festas de família, em vez dos tradicionais King, sueca ou Pictionary. Imagino que, no Natal, ao fim de três ou quatro joguitos, até ver a Música no Coração iria ser uma aventura fascinante, com um coro muito jeitoso de Von Traps à portuguesa a acompanhar.

Tuesday, February 27, 2007

Pelo menos a miúda não tem falta de auto-estima

"O meu nome é MG
tenho muitos amigos
e todos me adoram.
Os meus pais não percebem
que uma filha como eu
foi a melhor coisa
que lhes aconteceu."

Esta é a letra do genérico dos desenhos animados MG - Miúda Gira (só o nome...). Isto é que é pôr as expectativas dos miúdos a um nível realista, hein?

Monday, February 26, 2007

O feitiço do tempo

Estou a reler um livro que li há 20 anos atrás, chamado Momo, do mesmo autor de História Interminável, Michael Ende. Curiosamente, praticamente não me lembro do livro, cuja história gira em torno da forma como gerimos o nosso tempo nos dias de hoje, se a nossa prioridade é correr atrás do tempo ou gozá-lo com as pessoas de quem gostamos. O livro tem uma visão muito pessimista do mundo moderno, porque me parece que, apesar de tudo, hoje nos esforçamos bastante (uns mais do que outros, é certo) para estar com a nossa família e os nossos filhos. É ter uma imagem muito poética da sociedade tradicional pensar que antigamente as crianças eram mais felizes e passavam muito tempo com as suas famílias, em longas conversas e brincadeiras. A verdade é que sempre houve crianças (e adultos) felizes e infelizes e que, culturalmente, aumentou muito o respeito e os cuidados que se têm com as crianças. Também é verdade que às vezes nos deixamos enrolar no ritmo da metrópole e que, se calhar, há pequenas coisas que podíamos fazer todos os dias para gastar melhor o nosso tempo. E não posso deixar de pensar nos binóculos feitos de rolos de papel higiénico que, finalmente, consegui fazer com a R. na sexta-feira passada, com os quais ela brincou imenso aos exploradores. Bendita meia-hora, valeu mais do que muitos dias chatos.

Sunday, February 25, 2007

90!

O meu avô faz hoje noventa anos. Havia muito para dizer, mas digo apenas "Obrigada".

Friday, February 23, 2007

Somos filhos da madrugada

Pois é, somos todos filhos de uma qualquer madrugada. Eu, que ainda nasci na noite escura do fascismo, prezo muito a madrugada que o 25 de Abril trouxe. E dessa madrugada faz, indubitavelmente, parte a música de Zeca Afonso. O "Grandola" é, para mim, símbolo de luta pela liberdade e da coragem que foi preciso ter para fazer o 24 e o 25 de Abril (porque a verdade é que hoje conhecemos o desfecho, mas os capitães não podiam ter a certeza de que tudo ia correr pelo melhor).

Percebo que Zeca Afonso seja amado por uns e menos amado por outros, precisamente pela associação tão forte à sua posição política e ao 25 de Abril. Mas isso só faz sentido para aqueles para quem essa data tem algum significado. E, dado que a maior parte dos jovens de hoje não parece sequer saber o que foi a ditadura e a revolução que acabou com ela, não há razão para gostarem ou desgostarem de Zeca Afonso por isso.

Sendo assim, sobra a obra musical, à qual, aparentemente, não se liga grande importância. Os músicos mais jovens actuais não consideram Zeca Afonso uma referência; para os mais antigos parece ser um passado já distante, algo que diz respeito a uma fase já passada das suas carreiras. E é injusto. É injusto porque a música tradicional portuguesa é diversa, rica e muitíssimo adaptável a novos contextos. É injusto porque Zeca Afonso, dizem os especialistas, inovou e abriu novas portas neste campo. E, depois, não deixa de ser curioso que quem se ouve por aí a cantar as suas músicas sejam precisamente os filhos daqueles que tiveram de fugir para o Brasil no pós 25 de Abril, que votam à direita (direitíssima...) e que cantam a "Maria Faia" lado a lado com o fado marialva. Ironias...

Wednesday, February 21, 2007

Oceanos de harmonia

Não, não é uma nova marca de música para meditar. É que hoje, toda a família foi ao Oceanário. Eu já adorava o Oceanário, um dos lugares mais bonitos e inteligentes de Lisboa (e esta? Lugares inteligentes, hei-de usar mais vezes...), mas quando vi a R. sentada do chão, a desenhar peixinhos e o A. a olhar, esbugalhado, para a enorme janela de água azul, enquanto bebia o biberão, rendi-me para sempre à harmonia e ao amor familiares adornados de azul.

Monday, February 12, 2007

Repete, repete, repete

A SIC Radical repete até à exaustão os episódios das primeiras séries do Gato Fedorento, de tal maneira que já nem consigo achar piada a alguns deles - ainda por cima, já editados, e vistos e revistos, em DVD. Mas enfim, compreende-se, é um canal por cabo e os episódios já têm uns tempos. Agora, alguém me explica porque é que a RTP já repetiu DUAS VEZES o Especial 2007 e nos brindou ontem à noite com o mesmo programa que já tínhamos visto antes e depois no Ano Novo? Terá sido porque o referendo de ontem também era uma repetição?

Thursday, February 8, 2007

A palmilha dupla

Há uns quinze anos, fiz com os meus pais, a minha irmã e a P. (o quinto elemento da nossa família, que sempre deu sentido ao facto de os carros serem para cinco pessoas) um fim de semana alargado na região de Monsanto. Passámos em Penha Garcia, onde havia uma feira. Ora eu, sempre friorenta, precisava de umas meias e resolvi aproveitar a ocasião. Encontrei o feirante que tinha o pretendido e que começou a mostrar-me a mercadoria, comparando qualidades e preços e terminando com um conselho: "Ó menina, leve estas, que são de palmilha dupla". Eu, claro, pensei que era uma manobra de marketing para me vender umas meias um pouco mais caras mas, num gesto simultaneamente magnânimo e radical, comprei dois pares. E não é que comprei as meias mais quentes e duradouras da história do vestuário português? A tal palmilha dupla revelou-se quentinha, confortável e resistente. E durante todos estes anos, não me cansei de chamar a atenção da família "Sabem o que eu trago hoje calçado? As meias de palmilha dupla da feira de Penha Garcia". Deitei hoje o segundo par fora e acho que vou ter saudades delas...

Sunday, January 21, 2007

O quarto de solteiro

Na Serra dos Candeeiros, há uma tradição ligada à casa e ao casamento, que é a seguinte: quando um casal constrói a sua casa, inclui um quarto que se destina a ser o quarto de solteiro do homem. Para lá, ele leva a sua mobília de solteiro e todos os seus objectos pessoais. O resto da casa, é responsabilidade e pertença da mulhar. Ora, aqui está uma tradição que às vezes nos faz falta. Quem nunca desejou ter em casa um quarto com aquela cama de dossel da infância mais a colecção completa da Patrícia e da Daniela? E qual é o homem que nunca lamentou o facto de não poder expor na sua casa os posters de Ferraris, Kawasakis ou aviões 747? Pois é, definitivamente, os arquitectos não estão atentos e os apartamentos de hoje em dia não respondem eficazmente às nossas necessidades.

O melhor do mundo

Como dizia o outro, são as crianças. E, logo a seguir, os amigos e a família, digo eu. É uma enorme felicidade poder contar com todos eles, que estão sempre lá quando é preciso. Obrigada a todos!

Monday, January 15, 2007

Devolvido ao remetente

Tenho pensado bastante no referendo para a liberalização do aborto que se avizinha. Ouvi ainda há pouco uma comentadora televisiva regojizar-se com a organização e participação dos cidadãos. Ora, a mim, não me parece grande capacidade de organização surgirem dezenas de movimentos a lutar pelo mesmo. Se só há duas opções, o sim e o não, porque é que há tantos movimentos? E, digam-me lá, porque é que as campanhas são tão pobres, ideológica e graficamente? Quem são estas pessoas que se (des)organizam?

Ainda por cima, este não é um assunto em relação ao qual as pessoas mudem de opinião, pelo que as campanhas pelo sim e pelo não me parecem absolutamente desnecessárias. Parece-me que faltam é campanhas a insistir com os cidadãos para irem lá pôr o papelinho. Porque é uma vergonha se não houver percentagem de votos suficiente para o referendo ser válido. Ainda é uma vergonha maior se é válido e ganha o não, mas é, apesar de tudo, uma vergonha mais digna.

Sunday, January 14, 2007

A minha mãe toca sempre duas vezes

É sabido que crias e progenitores possuem a capacidade de se reconhecer mutuamente através do cheiro. Nós, humanos, como animais que somos, não constituimos excepção. Por isso mães e filhos se conhecem pelo cheiro. Também por instinto, as mães acordam com o choro dos seus bebés e não dos outros e identificam as suas mãos, e até as asneiras que fazem sem dificuldade...

A minha mãe tem duas ou três coisas pelas quais eu seria capaz de a reconhecer no meio de uma multidão. Uma é a forma de se assoar. Não é especialmente ruidosa ou aparatosa, mas uma vez, num centro comercial, nem precisei de me virar para saber que era ela...


Outra coisa é a forma de bater à porta. Tenho uma campainha com algumas décadas e um temperamento muito próprio. Para conseguir que toque, para mim, é dedo espetado e vigor (felizmente que toca tão alto que, na rua, sei se está a tocar lá em cima). Pois a minha mãe consegue, não sei como, arrancar um toque suave, feito de dois toques breves, sempre igual. Sempre igual. E inconfundível. Como a minha mãe.

Friday, January 12, 2007

Que saudades da serra e da carqueja em Maio

O carteiro azul

Adoro a sensação de o carteiro me entregar em mão uma carta, mesmo que ele já venha azul do esforço de subir ao segundo andar e nem consiga dizer sem ofegar "Assine aqui, por favor". Eram duas cartas das finanças, mas isso não interessa...

Tuesday, January 9, 2007

O título do blogue

Começo com aquele clássico ultra pessoal da "nossa música". Porque, mesmo na era do digital, não há nada que chegue a uma carta na caixa do correio.

Correio Azul

Manda-me uma carta em correio azul
p'ra afastar estas cinco nuvens negras
relembra-me as regras
do saber viverre
põe-me o sentido nos sentidos
olfactos ouvidos
à vistade tactos
do teu paladar

Manda-me uma carta em correio azul
p'ra afastar esses blues de pacotilha
renega e perfilha
respectivamente
a torpe indiferençae o amor ardente
amor tão ardente
que dos erros meus má fortuna se ausente

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente

Manda-me uma carta em correio azul
que me deixe a face roburizada
promete-me a noite fatigada
de termos aberto o nosso nexo
ao sexo
da vida
porção destemida
da nossa emoção

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente

Manda-me uma carta em correio azul
que branqueie o passado num momento
paixão, é no corpo o sentimento
que faz da razão montanha russa
aguça
o encanto
mas no entretanto
faz estragos mil

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente

Manda-me uma carta em correio azul
para eu guardar no castanho dos armários
no meio de testemunhos vários
escritos por letras tão distantes
murmúrios amantes
que a vida me oferece
só por muito amar

Erros meus, má fortuna, amor ardente
qual em nós mais frequente
qual em nós mais frequente
amor ardente
cada vez mais frequente

Sérgio Godinho, in Domingo no Mundo, 1997